RECIFE – A ex-senadora Marina Silva desembarcou por volta das 15 horas no aeroporto de Recife para acompanhar o velório e enterro de Eduardo Campos, morto na última quarta-feira em decorrência de um acidente aéreo. Ela ainda não confirmou se será mesmo a candidata do PSB à Presidência, mas seu nome é dado como certo e partido já discute quem será o vice. O anúncio oficial da chapa será realizado na quarta-feira, após reunião em Brasília com os caciques do partido.
Assim que pousou na capital pernambucana de um voo comercial, Marina declarou ter senso de responsabilidade, e afirmou que vai manter os compromissos definidos com Campos. Vice do candidato do PSB na disputa pela Presidência da República, ela evitou falar sobre seu futuro político.
Durante o voo, com duração aproximada de três horas, Marina leu o salmo 23 da bíblia — que traz os dizeres “o Senhor é meu pastor, e nada me faltará” — e foi lacônica ao ser questionada sobre os rumos que serão tomados pelo PSB após a morte de Campos:
— Tenho senso de responsabilidade e compromisso com o que a perda de Eduardo nos impõe — disse, sem dar espaço para tratar das discussões com os socialistas.
Marina também comentou sobre o seu sentimento em relação ao acidente, e o fato de não ter embarcado naquele voo para seguir para Santos, como estava previsto:’
— Penso que existe uma providência divina em relação a mim, ao Miguel, a Renata e ao Molina — disse ela, segurando forte na mão da repórter, sinalizando que não pretendia mais falar sobre o assunto.
A candidata embarcou em São Paulo na manhã deste sábado, após três dias reclusa em casa. No mesmo voo, o senador petista Eduardo Suplicy também embarcou e prestou sentimentos a Marina, com um beijo na testa. Antes de voar, ela teria pedido para ver jornais e revistas, e se emocionou folheando as páginas do noticiário ao ver as imagens publicadas do aliado. Nos últimos dias, ela tem repetido muito expressões como “meu companheiro” e “eu amava Eduardo”, segundo pessoas próximas.
Abatida, Marina quase não falou durante a viagem. Inadvertidamente, ela acionou o botão que chama os comissários. A comissária que veio atendê-la não agiu como se a reconhecesse. Marina se desculpou pelo engano. Com frio, cobriu-se com uma manta vermelha, tomou água de uma canequinha própria e pôs fones de ouvido brancos conectados a um celular, algo que não costuma fazer em viagens. Posteriormente ela contou que ouvia uma pregação de Ananias, dado a sua preocupação em voar após o acidente. Ela manteve a Bíblia no colo e tomava notas em um exemplar de “Em busca da política”, de Zygmunt Bauman.
Enquanto se discute a viabilidade política de uma consulta em torno do nome de Marina, um assessor de bom trânsito com a ex-senadora afirmou que ela vai aceitar a indicação do PSB.
De acordo com ele, Marina aceitou a missão como natural diante da tragédia. O mesmo assessor também destaca que não há divergência sobre o programa de governo, que estava pronto e seria apresentado na semana que vem. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB), um dos líderes da legenda no Senado declarou também que a ex-ministra “se mostrou disposta” a assumir o lugar de Eduardo Campos na chapa.
— Marina se mostrou disposta a assumir o papel de candidata natural, em função da tragédia que aconteceu. Agora o partido vai discutir os desdobramentos e a estrutura da campanha e deverá indicar o vice de Marina Silva — disse.
Em conversa na sexta-feira com o presidente do PSB, Roberto Amaral, ficou acertado que ex-senadora vai aguardar a indicação de um vice pelo PSB. Caberá ao partido de Campos fazer essa escolha. O líder da legenda da Câmara, Beto Albuquerque (RS), é o mais cotado. O nome de Luiza Erundina também apareceu na bolsa de apostas. Albuquerque, porém, tem bom trânsito com o meio empresarial e teria perfil complementar ao de Marina.
Ao desembarcar em Recife, a primeira providência de Marina seria telefonar para Renata para combinar uma visita.
FONTE: O GLOBO