“A PETROBRAS NÃO PASSA POR CRISE”, AFIRMA GRAÇA FOSTER PRESIDENTE DA COMPANHIA

PRESIDENTE DA PETROBRAS GRAÇA FOSTER
PRESIDENTE DA PETROBRAS GRAÇA FOSTER

A engenheira Maria das Graças Foster, 59 anos, é a primeira mulher a presidir não só a Petrobras, mas qualquer companhia petróleo global. Em janeiro, completou um ano no cargo. O cotidiano da empresa não é, porém, novidade para ela. Graça Foster, como é conhecida, está há 35 anos na companhia, onde entrou como estagiária. Durante quatro anos, na gestão do antecessor, Sérgio Gabrielli, ela respondeu pela diretoria de Gás e Energia. Elegantemente, lembrou esse fato ao ser perguntada pela reportagem sobre os erros cometidos na empresa no passado recente. Para ela, ambos têm “estilos diferentes”, mas as mudanças que vem promovendo na petroleira não “contradizem” o que se fez antes.

Considerando-se a dificuldade para mexer uma empresa do porte da Petrobras, Graça não tem feito pouco. Está revendo o processo que levou a obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a custar cerca de US$ 20 bilhões, 10 vezes mais do que o planejado inicialmente. Pretende vender a refinaria de Pasadena, nos estados unidos, comprada em 2005. E pôs em prática um programa para melhorar os resultados da empresa. A dúvida é se tudo isso pode fazer frente à defasagem entre os preços internos dos combustíveis e a cotação do petróleo no mercado internacional. Graça acredita que sim. E isso ficará claro, no entender dela, a partir do segundo semestre do ano. “a Petrobras não passa por uma crise”, assegura.
Formada em engenharia química pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1978, tem mestrado em engenharia de fluidos e pós-graduação em engenharia nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez, ainda, mestrado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Veja os principais trechos da entrevista.

A senhora afirmou que 2013 trará resultados para a Petrobras piores que os de 2012. Qual é a razão para o desempenho ser pior do que de empresas equivalentes em porte e atuação no mundo?
Eu não disse, em nenhum momento, a palavra “pior”. O que eu afirmei foi que 2013 será um ano mais difícil, mas exequível. É importante que fique claro: a Petrobras não passa por uma crise. Estamos em um momento em que temos que superar grandes desafios, que são, ao mesmo tempo, enormes oportunidades para a companhia. O resultado de 2012 deve ser creditado, principalmente, à desvalorização cambial, ao aumento da importação de derivados a preços mais elevados, ao aumento de despesas extraordinárias com poços secos e subcomerciais e à menor produção de petróleo em relação a 2011. Reconhecemos as dificuldades que se apresentam e estamos trabalhando ininterruptamente para superá-las. Assim, após um extenso e detalhado diagnóstico das atividades operacionais, nós definimos prioridades e implementamos ações estruturantes, de curto e médio prazo, para aprimorar os resultados econômico-financeiros da companhia. Os programas de Otimização de Custos Operacionais (Procop), de Aumento da Eficiência Operacional da Bacia de Campos (Proef), de Desinvestimento (Prodesin) e de Otimização de Infraestrutura Logística (Infralog) são exemplos dessas ações. Estamos mais bem preparados, organizados, para superar esses desafios, e os resultados já são evidentes. Não é verdade que o desempenho da Petrobras tenha sido o pior entre as empresas equivalentes em porte e atuação no mundo. Se compararmos nosso lucro líquido com o de outras grandes empresas do setor, veremos que aquelas empresas também registraram queda em 2012 frente a 2011. Por outro lado, a Petrobras foi a única entre as grandes companhias a ter crescimento na produção de óleo e gás natural de 2002 a 2012, de 45%o — enquanto a média de crescimento das outras grandes empresas com ações no mercado, no mesmo período, foi bem menor.

Em que medida os objetivos e métodos adotados pela gestão de seu antecessor, Sergio Gabrielli, comprometeram o desempenho operacional e financeiro da Petrobras?
  As mudanças estruturais que estão sendo implementadas em minha gestão não vieram de uma hora para outra. Ainda na gestão de Gabrielli, da qual eu participei como diretora de Gás e Energia por quatro anos e meio, nós discutimos muitas mudanças na companhia. Algumas delas, inclusive, foram implementadas durante a gestão dele. Dou continuidade a um trabalho que nós começamos lá atrás, e que muito provavelmente estaria sendo feito de forma parecida por meu antecessor. É natural que tenhamos estilos diferentes, mas isso não significa contradição.

Pelos cálculos de sua equipe, qual é a defasagem remanescente nos preços de combustíveis após os reajustes autorizados pelo governo nas refinarias?
Não devo falar sobre o valor da defasagem de preços, pois há um conjunto de elementos que variam diariamente, como o preço do petróleo, a taxa de câmbio e o nível de consumo de determinado derivado no mercado mundial. Além disso, influenciam também os custos da importação, que variam de acordo com o país do qual estamos importando o combustível. É extremamente importante salientar que, nos últimos nove meses, tivemos quatro reajustes de preço do diesel, que somaram 21,9% de aumento, e dois reajustes de preço da gasolina, que somaram 14,9% de aumento. Mas a desvalorização cambial acabou prejudicando uma maior convergência dos preços domésticos com os preços internacionais.

Essa diferença ainda compromete investimentos e rentabilidade da empresa?
Não há comprometimento da capacidade de investimentos da Petrobras. Em 2012, cumprimos integralmente o que estava previsto no Plano de Negócios e Gestão, e não temos dúvidas de que vamos cumpri-lo também em 2013.

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