CORPO DA NETA DE CANDIDO PORTINARI É CREMADO NO RIO.

VELÓRIO DE Maria Cândida Portinari, de 16 anos

 

RIO — De personalidade forte, a alegre e estudiosa Maria Candida Portinari, de 16 anos, neta do pintor Candido Portinari, estava numa fase feliz da vida. Na tarde de domingo, ela desceu para o primeiro andar da casa onde morava, em São Conrado, para tomar um banho de banheira. Se preparava para sair com o namorado. Mais tarde, jantaria com os pais em um shopping. Pai de Maria Clara, João Candido sentiu cheiro de gás e encontrou a filha submersa na banheira. Uma amiga da família, Sueli Avelar, contou que o aquecedor do chuveiro funcionava por meio de um botijão de gás, que fica do lado de fora do banheiro.

— Ela era uma jovem linda, com os olhos muito azuis. Uma adolescente alegre. Gostava de desenhar e escrever poemas — afirmou Sueli.

Adolescente morava com os pais

A família suspeita que o vazamento de gás tenha ocorrido no aquecedor. A adolescente morava com seus pais, Maria Edina e João Candido, que tem outros dois filhos de outro casamento. O pai encontrou a jovem por volta das 16h e teria pedido ajuda a vizinhos, amigos e bombeiros. Ninguém conseguiu reanimá-la.

— O João me ligou dizendo que tinha acontecido uma desgraça. Os pais estão em estado de choque — disse Sueli.

A madrinha da estudante, Christina Penna, lembra que Maria era uma jovem meiga:

— Era uma menina do seu tempo, com muitos amigos, ligada na internet, alegre e cheia de vida.

O velório da jovem, nesta segunda-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, foi acompanhado por 200 pessoas. A adolescente foi cremada. Amigos e parentes estiveram na cerimônia, entre eles o cantor Milton Nascimento, o humorista Hélio de La Peña e a atriz Maria Padilha. Sobrinha de Maria, Luisa Portinari, também de 16 anos, contou que foi criada como irmã da jovem.

— Ela era divertida e estava muito feliz. Tinha o gênio forte e era uma pessoa com personalidade marcante — disse, lembrando que a adolescente estava animada com a viagem que havia feito à Disney durante o carnaval.

Amiga de escola da estudante, Bruna Lima, de 14 anos, disse que Maria era uma aluna muito estudiosa e gostava de ajudar os outros:

— Ela fazia resumos dos estudos e os distribuía para os amigos.

Maria namorava há oito meses e tinha o sonho de ser engenheira civil. Fã dos livros e filmes de Harry Potter, a menina estudava no Colégio Santo Inácio, em Botafogo.

O titular da 15ª DP (Gávea), delegado Orlando Zaccone, aguarda o resultado dos laudos periciais. A polícia também espera a conclusão de exames complementares para determinar a causa da morte. O delegado vai ouvir parentes e o namorado da vítima. De acordo com a CEG, a família não era cliente da concessionária.

Normas de segurança

O Corpo de Bombeiros informou que os prédios com mais de cinco unidades habitacionais que não utilizam o gás canalizado devem possuir uma central própria no pavimento térreo (fora da edificação). É vedado o uso dos botijões dentro dos apartamentos. Em relação às casas, não há normas que vinculem o uso do gás. Entretanto, quem opta pelo uso do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) deve observar as recomendações de segurança dos fabricantes dos botijões ou instaladores.

Segundo o engenheiro químico Antonio Gerson Carvalho, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio (Crea-RJ), em casos de mortes provocadas tanto pelo gás de cozinha quanto pelo natural encanado, o problema é a queima do gás, que produz monóxido de carbono.

— O importante é que haja ventilação no ambiente para que o produto da combustão seja jogado para fora. O basculante precisa estar dois dedos aberto, pelo menos. E a porta tem que ser cortada na parte inferior.

Mãe de vítima, há 7 anos, criou grupo de ação

Mãe da estudante Carolina Macchiorlatti, 19 anos, morta em 2006 enquanto tomava banho em sua casa, em Laranjeiras, Fátima Rodrigues criou o movimento Morte por Gás Nunca Mais. O grupo pede mudanças na fiscalização pelas distribuidoras de gás. Ela alega que, em visita de inspeção para conversão do sistema em sua casa, há sete anos, os técnicos da CEG não falaram que eram necessárias obras de adequação para o aquecedor que ficava no banheiro.

— A CEG teve participação na morte da minha filha. Não fui alertada sobre o risco, por isso ainda usávamos o banheiro. Os técnicos não me avisaram que a porta devia ter sido cortada nem que a janela era pequena — comentou.

Segundo Fátima, tramita na Alerj o projeto de lei 762/2007, do deputado Alessandro Molon (PT), que obriga a CEG ou empresa credenciada a fazer gratuitamente inspeção de segurança em residências e comércio.

— As fiscalizações deveriam ser obrigatórias e gratuitas, a cada dois anos. Infelizmente o projeto está engavetado. As mortes são rápidas, entre um e dois minutos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *