MÃE DE ANA CLARA AINDA NÃO SABE DA MORTE DA FILHA, DIZ TIA DA MENINA.

Jorgiane Carvalho, tia da menina Ana Clara
Jorgiane Carvalho, tia da menina Ana Clara.

A mãe da menina Ana Clara, de 6 anos, que morreu às 6h45 desta segunda-feira (6) após ter 95% do corpo queimado em ataque a um ônibus em São Luis, ainda não sabe da morte da filha, segundo a tia da menina, Jorgiane Carvalho. A família tem medo que a notícia comprometa a recuperação da mãe, Juliane Carvalho, 22 anos, que está internada em estado grave na Unidade Intermediária do Hospital Tarquínio Lopes com 40% do corpo queimado.

“Eu nem sei o que a gente vai fazer em relação à notícia porque ela tem que saber. Eu queria que ela se despedisse da Clarinha, mas eu não sei se ela vai aguentar mesmo. Ela sofre de depressão”, contou Jorgiane.

Segundo o médico Cláudio Araújo, a causa da morte de Ana Clara foi insuficiência renal e choque hipotensivo, refratário a drogas e líquidos. “O tecido não respondia. A droga não chegava a esses tecidos, dificultando o tratamento. Isso devido à gravidade, ao grau de lesão do acidente”, explicou.

Outra irmã de Juliane, Deusa Carvalho, está inconformada. Aos prantos, ela disse que a irmã contou que não conseguiu encontrar Ana Clara no meio do fogo e só conseguiu descer com a outra filha, Lorraine, de 1 ano e 5 meses. De fora do ônibus, ela teria visto o entregador de frango, Márcio Ronny da Cruz Nunes, 37 anos, que também estava no ônibus, resgatar a menina e se abraçar com ela para tentar apagar o fogo do corpo da criança. Ele está internado em estado grave com mais de 70% do corpo queimado, segundo o médico Luís Alfredo Soares.

“Eles entraram no ônibus e jogaram gasolina nas crianças que estavam próximas deles e atearam fogo. E, no momento daquele desespero, ele não pensou em sair, ele só pensou em ajudar”, contou a parente de Márcio, Maria da Conceição Nunes.

“Ela pediu, implorou para não jogarem a gasolina. Não tem classificação para isso. São uns monstros, piores que o demônio. Elas pediram e mesmo assim eles jogaram. Por que?”, disse a tia de criança morta, Deusa, aos prantos.

O pai de Ana Clara, Wenderson de Sousa, mora no Rio de Janeiro. Ele só conseguiu chegar a São Luís no sábado (4), após saber da notícia. “A maldade do ser humano tá demais. É lamentável. Era uma criança cheia de sonhos, carinhosa. É inconformável. Inconformável mesmo (sic)”, lamentou.

Onda de ataques
Ana Clara estava com a mãe e a irmã em um ônibus, na Vila Sarney, na sexta-feira (3), quando o veículo foi invadido e incendiado por homens armados. A onda de ataques na capital maranhense começou depois de uma operação realizada pela Tropa de Choque da Polícia Militar no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, com o objetivo de diminuir as mortes nas unidades prisionais do estado.

Na quinta (2), dois presos foram encontrados mortos em Pedrinhas. Em 2013, de acordo com o relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) entregue em 27 de dezembro, 60 detentos morreram nos presídios do Mranhão.

Nos ataques de sexta, quatro ônibus foram incendiados na Vila Sarney, na Avenida Kennedy, no bairro João Paulo e na Avenida Ferreira Gullar. Além disso, duas delegacias foram alvo de tiros em São Luís, no São Francisco e na Liberdade.

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